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domingo, 23 de maio de 2010

PsicOdevaneiO: Crônica do 'Saber'

"Saber por quê? Saber o quê? Como eu posso saber", ela se pergunta. Ela até sabe que não deveria fazer essas perguntas, mas não sabe mais o que pensar de nada. Quando ela olha no espelho sabe que ainda é a mesma, porém, quando vê atravez do espelho sabe que o que passou... passou. Como ela, vivem milhões de pessoas que não sabem viver; respiram milhões de pessoas sem saber respirar; contemplam, milhões de pessoas, o passado porque não sabem o que, do futuro, podem esperar. Viver, sem saber como, não é crescer; respirar, ignorante, não faz sentir; olhar o passado, sem saber onde e o que procurar, não abre os caminhos que virão. Sabe qual é o pior de tudo? Eles, e ela, sabem disso.

Ela não acredita em Deus. Não sabe como poder acreditar em algo assim. Já eles, até acreditam, mas não sabem crer. Eles não acreditam que boas ações sejam de graça. Sabem que o Homem é podre. Já ela, até crê na bondade de alguns, pois sabe que se ela consegue controlar a maldade nela, outros também podem. Ela, sente inveja do sapato da amiga, do marido da vizinha e do cabelo da atriz. Até sabe que isso é ruim, mas no íntimo de sua privacidade, preferiria que todos estivessem iguais a ela ou ela igual a todos. Eles, como grande corpo, como vida em sociedade, têm inveja uns dos outros. Sabem que isso é ruim, mas no núcleo de seus pensamentos entendem que devem parecer o melhor possível para seus irmãos. Não há espaço para admitir um defeito.

Em sua casa, com seu marido médio e seus sapatos simples, ela olha para a televisão e vê a vida maquillada. Culpa a humanidade - eles - por cada uma das atrocidades. Nunca a sim mesma! Eles, em suas bolhas pessoais, com suas máscaras morais e ideias roubadas, olham para a televisão e enxergam a realidade como deveria ser mas não é. A culpa? É daqueles que ficam em casa apenas olhando - ela. Nunca algum deles!

Eles sabem que em suas casas podem ser quem são; ela sabe que na rua pode ser quem querem que ela seja. Quando eles entram,  não acreditam em Deus e têm inveja dos sapatos e cabelos alheios; quando ela sai, restringe seus pensamentos, pois falhas não são permitidas. Ela, fora de casa, faz parte deles; eles, dentro de casa, são como ela; e eles, e ela, e você, e eu, sabemos disso.

Ao fim do dia, quando todos sabem que a dose só será repetida pela manhã, eles e ela se perguntam: "Saber por quê? Saber o quê? Como eu posso saber". Eles até sabem que não deveriam fazer essas perguntas, mas não sabem mais o que pensar de nada. Quando eles, todos, olham no espelho sabem que ainda são os mesmos, porém, quando vêem atravez do espelho, sabem que o que passou... passou e não existe o que possa reverter isso. Por que? Porque nenhum deles sabe de nada; nem você; nem eu; apenas existimos.

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