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quinta-feira, 27 de maio de 2010

PsicOfilmE: Fúria de Titãs ("Clash of Titans", 2010)

"Realese the Kraken!!!". É esta frase que marca o trailer, consequentemente, o filme Fúria de Titãs, estréia da última sexta-feira nos cinemas. Para quem não sabe, a frase significa "Liberte o Kraken" e se você não sabe quem é Kraken, provavelmente nunca viu Piratas do Caribe e vai precisar da ajuda do bom e velho Google.

Fúria de Titãs, para começo de conversa, é a refilmagem de um clássico homônimo de 1981 que já foi cliente da Sessão da Tarde mas não figura no programa já há algum tempo. O filme original contava lenda grega do herói e semideus(meio homem meio deus) Perseu que se rebelava contra seu pai, Zeus, uma vez que os deuses estavam descontentes com os humanos. Na produção oitentista, Zeus viola os aposentos de um rei e fecunda sua esposa. Irritado com o bastardo divino, mas sem querer sujar as mãos de sangue, o rei joga suas esposa e a criança no mar e eles são levados à cidade de Argos. Burlando alguns aspectos do mito, apenas Perseu sobrevive e é criado por pais adotivos. Muitos anos se passam e os atuais reis de Argos se rebelam contra os deuses que, por sua vez, irritam-se com a insolência de suas próprias criações. Como punição, os deuses decretam que a princesa Andrômeda, noiva de Perseu, deverá ser sacrificada ou então é a cidade inteira cairá pelas mãos da mais terrível criatura já vista: o Kraken. Perseu, então, parte numa busca pela única coisa que pode derrotar o monstro: a cabeça enfeitiçada da Medusa. Durante o caminho até lendária mulher, o semideus precisa enfrentar todo tipo de criatura mitológica imaginável. Para passar por tais desafios, ele conta com presentes divinos: a espada de Zeus(rei dos deuses e senhor dos céus), o escudo de Athena(deusa da sabedoria e da batalha) e o elmo de Hades(deus dos Mortos) além, é claro, do lendário cavalo alado, Pégaso. O escudo, aliás, é essencial em sua luta com a Medusa, já que nenhum homem poderia olhar em seus olhos e não ser transformado em pedra. É com o interior espelhado do objeto que Perseu pode ver a fera e cortar sua cabeça (o que valeu uma cena memorável no filme de 81).

Ciente a trama do pai deste atual bockbuster, sua história fica simples de ser contada. Só preciso, agora, enumerar as diferenças. A primeira delas é uma personagem nova (dentre muitos personagens novos) que tira de Andrômeda o posto de dona do coração do herói; depois, podemos contar com os monstros e o vilão principal que mudam bastante - porém com as partes marcantes e já consagradas reproduzidas; temos, também, a primeira representação de um Pégaso preto(!!!) que, mesmo sendo um lindo alazão negro ainda assim não é o que estamos acostumados; mas o que mais me incomodou foi a ausência das armas divinas - exceto a espada, que não fica clara de que deus é -  e o escudo que é naturalmente espelhado mas não é de Athena. O resto é uma versão 2010 da mesma coisa.

O filme é muito divertido, quero dizer, não vá esperando um grande roteiro e falas dignas de Oscar, mas pode ir querendo muita ação a cada segundo e gráficos sensacionais. O Pégaso está incrível; o Olimpo, magnífico; o visual dos deuses absurdo e o Kraken então... colossal. Mesmo com o protagonista Sam Worthington meio canastrão como Perseu, temos três atores que dão uma competência digna a seus personagens: Lian Neeson esbanja poder interpretando Zeus, Ralph Fiennes - vilão conhecido desde Lord Valdemor em Harry Potter - nos mortra um Hades com o a medida exata de puro terror e Mads Mikkelsen -  que fez o vilão LeChifre em 007 Cassino Royale - coloca importância num personagem simples, o capitão Draco, de Argos.

As armaduras dos deuses são um espetáculo a parte. Além de muito bem planejadas, um efeito em computação gráfica as faz brilhar, mas não de uma maneira ridícula! Está mais para... celestial. Todos os cenários são grandiosos, seja no covil das Parcas, no Rio Estige ou no indescritível monte Olimpo, nossos olhos são presenteados com alguma surpresa -  quem for ver o filme repare no formato no covil das bruxas ou no chão da sala principal da morada dos deuses. Destaque também para a abertura do filme, muito bem pensada.

Bom, passada análise e já feita a recomendação, devo tocar num assunto que mexe com quem gosta de ir aos cinemas: o 3D. O filme em questão aqui não foi nem pensado em 3D. Devido ao monstruoso sucesso de Avatar, os estúdios gananciosos da Warner adiaram em um mês o lançamento de "Fúria" só para a conversão na tecnologia que consagrou o filme de James Cameron. O problema está aí: passar para o 3D um filme pensado em 2D não funciona! Por se tratar de uma produção de ritmo frenético, há cenas em que a câmera só lhe mostra borrões, devido às batalhas. Se isso já incomoda num filme normal, imagina ver borrões em 3 dimensões! Não se espante se você, por acaso, se sentir meio vesgo durante algumas passagens enquanto tenta acompanhar a ação... Fora isso, temos também um 3D sem grande profundidade onde você quase não percebe a clássica "imagem para fora da tela" que caracteriza essa tecnologia. Vá por mim, não vale a pena pagar ingressos, por vezes, muito mais caros por algo que fica devendo o que promete. Curta Fúria de Titãs de maneira tradicional (vai gostar mais ainda do filme) e se deslumbre com o que os efeitos especiais modernos podem fazer com uma lenda tão ancestral.

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